Fundadora da Escola

Entrevista: Ma Laoshi, Fundadora da Capital Mandarin School

Cara Ma Laoshi, para dar início a nossa entrevista, poderia se apresentar para o leitor?

Ma Laoshi in front of Gaobeidian Campus

Ma Laoshi ena entrada do Campus Gaobeidian

Sim, claro. Meu nome é Sandy Ma, sou diretora da Capital Mandarin School, em Pequim. Sou casada e tenho dois filhos, de 3 e 9 anos. Sou graduada em Literatura & Cultura Chinesa pela universidade Capital Normal University. Após minha graduação, ensinei chinês em uma escola primária e depois passei dois anos no exterior, ensinando chinês a expatriados em Singapura. Após retornar, trabalhei em um instituto de língua chinesa em Pequim. Em 2006 fundei minha própria escola, por duas razões principais: muitos amigos estrangeiros queriam aprender chinês e eu queria que eles aprendessem a partir dos meus métodos pessoais de ensino. Com isso, em 2014 tenho mais de 19 anos de experiência no ensino e a motivação de continuar por pelo menos mais outros 20 anos.

Pode nos contar mais sobre sua família (marido e filhos)?
Bom,meu filho tem 3 anos, gosta bastante de carros, então criou sua própria palavra para “veículo”, que é “wuwu”. Após isso todos começamos a dizer “grandewuwu”, “pequenowuwu”, ao invés de che/车. Ele já começou a nos ensinar seu próprio chinês (risos). Minha filha tem 10 anos, e demonstra interesse pela língua chinesa também, já que gosta bastante das aulas de Caligrafia Chinesa. Além disso, ela também adora praticar xadrez em um clube internacional e como esporte ela prefere dança. Meu marido e eu somos casados desde 2003, e moramos em Sanlintun com as crianças.

O que seu marido acha do projeto?
Bom, meu marido tem um hobby: ele gosta bastante de chá, especialmente chá Pu’er. Ele sempre repete que “o chá Pu’er, quando experimentado pela primeira vez, se tem a impressão de ser um pouco amargo demais, mas depois consegue sentir a doçura, e a impressão desse sabor doce se torna cada vez mais forte com o tempo e a medida que você passa a apreciar o chá. Assim é a vida!”. Acho que ele concluiu isso durante sua carreira internacional, que o levou para diferentes carreiras e indústrias – ele é graduado em uma universidade Sueca e trabalhou para empresas dinamarquesa, suíça, alemã e inglesa como gerente Senior. Então quando eu contei sobre essa ideia e depois fundei a Capital Mandarin School ele me contou seu ditado favorito e apontou que poderia ser muito difícil no princípio. Mas de modo geral gostou e sempre me apoiou muito, já que, como ele diz, quer sempre me ver aproveitando meu trabalho e a experiência com a escola se tornando mais doce com o tempo, assim como o chá Pu’er.

Agora uma pergunta que todo estudante tem que responder o tempo todo: quais são seus hobbies? Eu gosto de ler – estudei literatura por uma razão (risos) – e gosto de viajar sempre que tenho oportunidade. Um dos meus ditados favoritos em chinês é “读万卷书行万里路” que significa “ler 10 mil livros e viajar 10 mil milhas”. Minha interpretação para isso é que ler  aprofunda seu conhecimento e viajar amplia seu horizonte sobre a vida. Então meu trabalho é basicamente meu hobby, já que a escola me permite “ler” ao escutar as histórias e experiências dos estudantes e figurativamente viajar aos lugares que eles me contam sobre.

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Ma Laoshi entre estudantes e professores

Por que ensinar estrangeiros?
Quando eu estava em Singapura e comecei a ensinar chinês como uma segunda língua, eu descobri que existem dois problemas principais na comunicação entre as culturas. A primeira é a subjetividade cultural: as perguntas que os estrangeiros me faziam sobre a China eram incompletas e tendenciosas transmitidas pela mídia. Eu vi que as minhas dúvidas sobre suas culturas sofriam dos mesmos problemas, mas na direção oposta. Em todo país a mídia chama a atenção para os fatos que são de seu interesse e ignoram o que seria mais difícil de compreender. Outro problema é a ferramenta de comunicação, a língua propriamente dita. Para ter um quadro completo de uma civilização, ambos problemas precisam ser superados. Essa é a razão que convido estrangeiros a virem e aprenderem sobre a China aqui em Pequim. Eles podem ver a diferença da imagem que lhes foi passada pela mídia quando lidam com pessoas locais diariamente. E também podem simultaneamente aprender a língua para diminuir os muros da compreensão total e completa da China.

Quais foram os desafios encontrados por você ao fundar a Capital Mandarin?
Existiram muitos desafios, com certeza, mas há um obstáculo em especial que pessoalmente considero o mais difícil que superei: encontrar o método de ensino certo. Nos anos 1980, quando a China abriu suas portas para o mundo, muitos professores em diversas disciplinas usavam uma metodologia acadêmica para ensinar. Para aprender uma língua, entretanto, uma abordagem acadêmica nem sempre é uma garantia do aprendizado mais rápido e eficiente. Esse método tem foco demasiado em compreensão, e não suficiente na aplicação da língua. Então, para ter certeza que os estudantes possam realmente utilizar e falar uma língua – em oposição a apenas compreendê-la – eu precisei encontrar uma método mais pragmático de garantir a intereção entre estudante e professor. O estudante, no fim das contas, deveria realmente ser capaz de se comunicar na língua. Eu penso que entender essa ideia foi um passo crucial, embora difícil, para empreender com sucesso a Capital Mandarin School.

Falando sobre degraus conquistados, quais foram os mais importantes degraus conquistados em toda a sua carreira?
Oh. Outra vez, houveram dois, não apenas um. O primeiro degrau foi minha graduação, que me tornou uma professora. No Confucionismo tradicional Chinês, um professor representa um líder por exemplo, e como tal, um líder que não pode ser questionado em sua liderança. Então, por um lado, existia uma responsabilidade enorme colocada em meus ombros e eu tive que me adaptar a isso. Por outro lado eu aprendi que, apesar da responsabilidade como professora, minhas próprias decisões não são perfeitas – um professor tem suas inseguranças e pode ser questionado por um estudante – especialmente se o estudante for um indivíduo que foi treinado a questionar, principalmente se não estiver satisfeito com algum ensinamento. Então a conquista de se tornar um professor é interessante porque por um lado significa se tornar uma pessoa com grandes responsabilidades e poderes, mas, quase que paradoxalmente, o professor deve saber que sempre deve continuar também um estudante, pois muitas vezes os estudantes têm ideias que vão acrescentar em seu conhecimento. Na Capital Mandarin, temos estudantes de 5 a 77 anos de idade, que, para mim, é uma prova de que estava certa. Nunca é muito cedo ou muito tarde para se aprender coisas novas. O segundo degrau mais interessante na minha carreira foi construir minha própria escola. Capital Mandarin é um filho para mim, por assim dizer. Eu invisto muito tempo nessa escola, pois acredito que o que estamos fazendo tem valor além do ensino da língua, é também transferência de conhecimentos culturais. E eu acho que o fato de doar tanto de mim  significa que a escola se tornou parte da minha família e que faço parte da família da escola. Tudo é recíproco.

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Explicando o significado dos leões de guarda chineses

Quais os momentos mais felizes e mais tristes em ensinar chinês para estrangeiros?
Os momentos mais felizes são quando recebemos feedbacks construtivos sobre nossos professores e nosso trabalho. Os professores se empenham tanto em seu trabalho que qualquer reação dos estudantes nos valoriza como indivíduos. Os momentos mais tristes para mim são as despedidas de pessoas que preenchem nossa escola com seu conhecimento e sua vontade em compartilhar aquele conhecimento. Dar adeus a um professor porque ele/ela vai se casar ou simplesmente porque a vida acontece, é similar a ver familiares em mudança. Eu preferiria muito mais dar boas vindas a mais e mais pessoas para compartilhar suas histórias conosco e com os estudantes até termos o mesmo know-how da biblioteca de Pequim (risos).

O que você diria para você mesma mais jovem em relação a ensinar?
Use aquilo que vê para escrever seus próprios livros. Você tem energia e sonhos, và lá e explore, porque só assim você pode inovar e criar novos modos de ensino.

Do que você mais gosta em relação a ser diretora de uma escola?
Eu gosto de ensinar os professores. Me entristece ver que com o sistema de ensino rígido e ultrapassado das universidades, bons professores são na verdade coibidos em desenvolver seus talentos. Eu sempre amei os momentos em que algum professor em minha sala descobre onde se encontram suas potencialidades, e o quanto ajuda quando fornecemos algum suporte ou algum conhecimento pedagógico que ele/ela nunca havia sido confrontado antes. E o momento mais gratificante é claro quando eles implementam isso com nossos estudantes e os estudantes então se surpreendem com a velocidade quem podem aprender chinês.

O que o nome da Capital Mandarin School significa em chinês?
” 天下汇友 ” o nome chinês da Capital Mandarin segnifica “todos sob o céu permanecem unidos amigavelmente”. Na China Imperial “todos sob o céu” era a designação para o Mundo, com – assim como a maioria dos estudantes da China conhecem o caracter 中, meio – a China no centro. O interessante sobre esse conceito é que ele não cria uma barreira absoluta entre o que está no centro e o que está na periferia. Tudo é considerado sob o céu, mesmo as tribos da Mongólia e o leste da China ou os povos piratas da costa chinesa. Então quando pensamos no nome chinês da escola, queríamos absorver esse aspecto bastante integrativo da filosofia chinesa, e combinar com uma ideia moderna de comunidade internacional: criar um lugar onde e troca possa ocorrer, amizades podem ser formadas e diferentes culturas compreendidas – afinal de contas, todos nós, pessoas do mundo todo, estamos “todos sob o céu”..

O que a CMS significa para você ?
Existem dois aspectos para essa pergunta. De um lado a Capital Mandarin School foi fundada em 8 de Maio de 2006, que também é o dia do meu aniversário. Então a escola é uma parte integral de mim mesma. Por outro lado, como sempre emprestei todos os valores mais queridos durante a criação da escola, posso considerar a mesma como um de meus filhos.

O que seu método de ensino tem de especial?

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Ma Laoshi teaching Chinese characters

Nós primeiramente focamos no chinês oral, então após apenas 60 horas de curso o aluno consegue sobreviver em Pequim, e depois de 120 horas pode ser aprovado no exame HSK2/A2 e se dedicar ao HS3/B1. Até aqui não existe nada de especial no método – aprendizado rápido e eficiente é o pilar de sucesso de qualquer escola particular de línguas. Contudo, na Capital Mandarin combinamos a língua com aprendizado em filosofia, história, sociedade, etiqueta e muitos aspectos que são diferentes em outras culturas. Isso torna o processo de entendimento muito mais profundo e assim como temos observado em nossos estudantes, muito mais satisfatórios. Além disso, aprender uma língua não é só apenas aprender um instrumento de comunicação, é também sobre compreender os pensamentos que ela capacita. Devido a proximidade entre o Chinês escrito e a transmissão do pensamento e da cultura chinesa essa conexão faz o chinês ainda mais especial sob este aspecto.


Por que escolheu Pequim como centro da escola?
Além do fato de eu ter crescido em Pequim? (risos) Claro, na verdade é porque estou convencida que, ao aprender e praticar uma língua, o estudante deve se comunicar com a versão padrão da língua. Isso é o ideal já que permite a você ser compreendido pela vasta maioria dos falantes dessa língua específica. Chinês Mandarin é baseado no dialeto de Pequim e é utilizado em todas as mídias nacionais, como jornais, TV, rádio, filmes, revistas, etc. Além disso, Pequim como cidade tem muito orgulho de sua cultura. A percepção da capital para o povo chinês é a da cidade mais importante e mais… correta? Mais ideal? Eu não sei a palavra específica em inglês para o que quero dizer, mas Pequim é a cidade onde as decisões são tomadas, onde se encontra o poder, a cultura tradicional e por isso é o esteriótipo da China – o que torna Pequim tão interessante para estrangeiros. Acho que todos esses motivos mostram que Pequim é o melhor lugar para se aprender chinês e a cultura chinesa. Esse é o motivo que Pequim, e ainda mais especificamente a vila cultural de Gaobeidian, se tornaram a sede da Capital Mandarin School.

Esta é realmente a história completa para o novo campus da Campital Mandarin ser na vila cultural de Gaobeidian ?
Hm. Não, não, vai mais fundo que isso. Gaobeidian era uma cidade pequena perto do início do Canal Pequim-Hangzhou 京杭大运河, a principal rota de comércio da China durante 5 dinastias. Com o tempo, essa pequena vila de mais de 700 anos se transformou parte do distrito de Pequim e recentemente foi reformada em um esforço de criar um corredor cultural em Pequim. Os edifícios nos quais nossa escola faz parte são inspirados no estilo da arquitetura tradicional das dinastias Ming/Qing, contando com modernas instalações em seu interior. O comércio ao redor consiste em muitos museus, escolas de caligrafia chinesa, lojas tradicionais de artesanato, casas de chá, centros de medicina chinesa, empresas de produção cinematográfica, hotéis e diversos restaurantes e bares representando não só a tradicional culinária chinesa, mas também japonesa e coreana. É um mini-universo chinês, que agrada a estrangeiros, e particularmente me agrada bastante também. Aprender chinês no centro comercial de Pequim não é nada diferente de se aprender a língua em centros internacionais, como Nova Iorque, Londres, Tóquio, Sidnei, Rio de Janeiro, Johanesburgo, Dubai entre outros. Nesse caso, o aluno poderia até ficar em seu país. Mas aqui, em Gaobeidian, a cultura está presente em todos os sabores e estilos que a China tem a oferecer – o que faz a viagem para a Capital Mandarin valer a pena, mais do que aprender a língua.

Agora que conversamos sobre a localização, o que você nos conta sobre as pessoas que mantém a Capital Mandarin viva? Quais os seus critérios para novos professores e funcionários?
Oh essa é uma pergunta fácil: atitude. Especialmente, a atitude ao ensinar. Uma pessoa que ensina precisa de um tipo de paixão sobre o tema que está ensinando para seus alunos. Se eu ver isso em uma pessoa, não importa quão diferente da minha essa paixão possa ser, isto é o que desperta meu interesse em saber mais sobre essa pessoa. Naturalmente que certificados de graduação e de ensino são muito importantes para garantir a qualidade demagógica de suas aulas, mas apenas isso não é suficiente para ser capaz de trabalhar na Capital Mandarin School.

Quais são os objetivos para a escola?
Temos muitos. Mas é seguro falar que queremos aumentar a cooperação internacional, além de também aumentar continuamente, mas a passos pequenos, o número de estudantes e de funcionários nos próximos 5 anos. Temos a opção de expandir nosso campus, e eu realmente gostaria de fazer isso para tornar a experiência para nossos estudantes memorável. Um outro objetivo seria expandir nossos programas de ensino e culturais, com o objetivo de desenvolver conhecimentos únicos e fornecer ainda mais serviços a nossos alunos.

O que os alunos podem esperar?
Com nosso novo campus, que possui salas de aula e também confortáveis opções de acomodação, nós finalmente conseguimos oferecer a experiência completa que almejávamos oferecer nos últimos 4 anos. Tudo é possível em nosso campus Gaobeidian, acomodação, segurança, opções de transporte próximas, estilo tradicional de arquitetura e modernas instalações de moradia e ensino, cooperações interessantes com parceiros (casas de chá, artistas de caligrafia, museus, exposições, etc.), um leque de opções de classes, um time completo de professores integrais… Oh, e até uma máquina de café automática (risos). Muitos estrangeiros me disseram que café é o combustível para começar o dia – especialmente se eles têm aula após o café da manhã. Então eu espero que os estudantes aprendam ainda mais rápido com um pouco de cafeína (risos).

Obrigado, Ma Laoshi, pela entrevista !